By Éden António
O Amor Maior: Onde a Voz Não se Perde, Mas se Encontra
Amor é a Razão é a força motora da nossa existência, a resposta à pergunta do por quê nascemos. Deus é amor! E ele nos criou através do amor, por amor e para amar. É seu grande mandamento para nós, Amá-Lo e amar aos outros e assim experimentar relacionamentos felizes a partir desse amor.
E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. 1 Joao 4:16
A música, muitas vezes é a ponte mais curta entre a alma e o Divino. O dominicano Juan Luis Guerra ensinou-nos uma verdade profunda, não através de sermões, mas através da batida irresistível da Bachata e do Merengue: quando cantamos sobre o Amor maior, não perdemos a nossa voz, encontramos a nossa verdadeira essencia.
A nossa voz individual, muitas vezes tímida e cheia de dúvidas, hesita em falar de propósito. Tememos que, ao apontar a nossa vida para algo grandioso, ela se perca no coro das grandes causas ou que a nossa pequena nota não seja suficiente. Mas Juan Luis Guerra inverte a lógica, é justamente quando nos alinhamos com o Amor que transcende tudo, o Amor que é maior que a conta bancária ou o rancor do vizinho, que a nossa frequência se harmoniza e a nossa melodia única se torna clara.
A busca pelo propósito, pela missão é na sua essência, a procura pela nossa ressonância. É a tentativa de encontrar o ponto de vibração máxima entre quem somos, o que fazemos e o que o mundo precisa. E no meio dessa busca, a maior barreira que se levanta não é a falta de talento, nem a falta de oportunidade, mas sim uma herança de perceções sociais distorcidas, um vírus mental que sussurra: “Amor-próprio é egoísmo.”
A Reengenharia da Percepção: O Legado de Berry Gordy no Espírito
Berry Gordy, o visionário por detrás da Motown, não vendia apenas discos e canções melacolicas. Ele vendia uma nova realidade social, o seu marketing não era sobre música, era sobre reengenharia de perceções. Gordy pegou artistas negros, muitas vezes esquecidos e escondidos nos guetos e estereótipos e iluminou-lhe deu-lhes um proposito e polimento, uma sofisticação e uma apresentação que exigia respeito universal. Ele forçou o mundo a ver a beleza, o talento e a elegância negra.
Nesta nossa jornada interior para encontrarmos a nossa missão, precisamos aplicar a filosofia de Berry Gordy à nossa própria mente. Temos de ser os nossos próprios mestres da reengenharia de perceções. O marketing da alma precisa de mudar a narrativa interna. Temos sido programados, ao longo de gerações, por religiões, culturas e famílias, a acreditar que cuidar de nós, priorizar a própria paz e nutrir a própria alma são atos de narcisismo, em oposição à virtude de se doar aos outros, de se sacrificar até a exaustão.
Quantas vezes colocamos um sorriso no rosto para servir os outros, enquanto por dentro estamos a desmoronar, a morrer aos poucos? Quantas vezes sentimos a culpa a morder-nos a consciência se ousamos tirar um dia só para nós, para curar as nossas feridas ou simplesmente descansar? É essa perceção distorcida que nos impede de encontrar o nosso propósito. Porque a missão que nos chama exige força, inteireza e um espírito que transborde e não uma alma drenada e vazia.
O maior ato de serviço que podemos oferecer ao mundo não é a nossa exaustão, mas a nossa plenitude.
O Vazio da Auto-doação e a Lágrima Escondida
O coração humano, na sua infinita capacidade de amar, frequentemente confunde “doar-se” com “desaparecer“. Acreditamos que, quanto mais nos aniquilamos em função do outro seja o cônjuge, o filho, o empregador ou a comunidade, enfim… Acreditamos que mais virtuosos e consequentemente, mais dignos de amor seremos.
Esta é a armadilha emocional mais antiga e dolorosa. É a busca por validação externa, disfarçada de altruísmo. É o medo profundo de não ser o suficiente que nos impele a fazer demais, a dizer ‘sim‘ quando a nossa alma grita ‘não‘. A austeridade, neste contexto, é o chicote que usamos em nós mesmos, na esperança de que o sofrimento comprado nos traga o direito à aceitação.
A missão, para muitas almas generosas, torna-se uma fonte de ansiedade e burnout precisamente porque é iniciada a partir de um lugar de vazio, e não de transbordamento. O choro de desespero não surge porque falhámos no serviço, mas porque nos falhámos a nós mesmos, dia após dia, gota a gota, na esperança de que alguém nos salvasse da nossa própria negligência.
Pense em Nomcebo, a poderosa voz sul-africana por detrás de Jerusalema. A sua voz, mesmo quando canta sobre a busca por um “lar” espiritual, vibra com uma alegria contagiosa, com uma celebração da vida. Imagine se ela tentasse cantar com a boca seca, o corpo cansado e o coração ressentido. A ressonância desapareceria. A celebração é o combustível da missão, não a sua recompensa. Se o serviço não é alegre, se a doação não é abundante, então é sacrifício não santificado. É apenas dor.
Luciano, a Fé e o Transcender da Fama
A jornada de Luciano, da dupla Zezé Di Camargo & Luciano, serve como um espelho da alma em busca do seu verdadeiro centro após atingir o pico do sucesso mundano. A fama, o dinheiro, o aplauso, tudo o que o mundo dita como propósito, estava lá. E, no entanto, a narrativa comum a tantos artistas e pessoas de sucesso é a mesma: o sucesso externo não preenche o vazio interno.
Quando figuras como Luciano falam de encontrar Deus, não se trata apenas de uma conversão religiosa; trata-se de uma realocação do centro de gravidade da vida. É a compreensão de que o Amor mais poderoso é aquele que nos transcende. Enquanto o sucesso na carreira serve ao ego, a missão serve à alma. A missão é o Amor Maior a encontrar expressão no mundo através do teu talento.
Luciano e tantos outros testemunham que servir a Deus (ou servir ao propósito Divino) não é sobre austeridade, mas sobre celebração. É encontrar a alegria genuína que não depende das vendas de álbuns ou da audiência do espetáculo, mas sim da certeza do alinhamento. É perceber que a nossa vocação, quer seja cantar, escrever, cuidar de uma criança ou resolver equações complexas (como Dr. J. Ernest Wilkins Jr.), é um ato de adoração quando feito com o coração inteiro. É um ato de celebração de quem Deus (ou a Vida) te criou para seres.
Se a sua missão não lhe traz uma celebração interior, é porque ainda está a servir a um mestre externo, seja a opinião alheia, a necessidade de aprovação, ou o medo do fracasso.
Encontrar Deus e Encontrar o Nosso Eu Interior
A chave para o propósito e para a cura da culpa reside na interconexão entre encontrar Deus e encontrar o nosso eu interior. Não são viagens separadas.
Durante muito tempo, a espiritualidade foi-nos apresentada como uma busca externa, uma peregrinação a um templo distante, uma obediência a regras estabelecidas por terceiros. O eu interior era frequentemente visto com desconfiança, como a sede do “pecado” ou do egoísmo. Era a parte de nós que precisava ser domada, silenciada e sacrificada.
A verdade libertadora é que o Divino não está apenas lá fora, está dentro de ti. O propósito não é uma bússola apontada para um mapa desconhecido; é um íman que aponta para o teu centro.
O teu eu interior é o portal para a tua missão.
- O Eu Interior é o Sacerdote: Ele é o único que sabe o que te acalma, o que te energiza e o que te faz sentir-se vivo.
- O Eu Interior é o Recipiente: Ele deve ser enchido, nutrido e cuidado. Não se pode despejar de um copo vazio.
- O Eu Interior é a Fonte de Autenticidade: A tua missão não será a de mais ninguém. Será única, forjada pelas tuas feridas curadas, pelas tuas alegrias e pelas tuas capacidades inatas.
Quando nutrimos o nosso eu interior, estamos, na verdade, a honrar a centelha Divina que nele reside. Cuidar de si não é egoísmo, é mordomia Divina. É um ato de responsabilidade para com o presente que te foi dado: a tua própria vida. Esta perspetiva está profundamente alinhada com a sabedoria ancestral que nos lembra que o nosso corpo é o “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6:19-20) e que “ninguém jamais odiou a sua própria carne; pelo contrário, a alimenta e dela cuida” (Efésios 5:29).
Deus precisa de nós saudáveis e inteiros para levar a Sua Palavra ao mundo. Ele quer que sejamos Amor, como Ele próprio é Amor, e que nos lembremos de ser Luz para quem precisa. Em Deus, somos chamados a ser o sal que tempera os relacionamentos (Mateus 5:13). E como poderemos temperar, iluminar ou amar, quando nós próprios estamos vazios, amargos ou quebrados? A nossa plenitude é o pré-requisito para o nosso serviço eficaz.
A Solidão e a Luta Pela Autopaz
Esta jornada, como bem mencionou no contexto dos inventores negros sob a “Operação Clean Slate”, é frequentemente solitária e épica.
Pessoas de visão, sejam inventores como Dr. Wilkins, que tiveram os seus estudos escondidos por risos e inveja, ou artistas que decidiram desviar o seu foco de um sucesso superficial para uma missão mais profunda, enfrentam invariavelmente a incompreensão.
A Bíblia Sagrada ensina-nos que Deus reserva a verdadeira sabedoria para os retos de coração, para aqueles que O amam e Nele confiam. E é por isso que este caminho é, muitas vezes, solitário. É no escuro solo profundo onde os raros diamantes são forjados o isolamento da incompreensão é o cadinho que purifica a visão e fortalece o caráter, permitindo que a sabedoria Divina ressoe sem a distração do aplauso fácil ou do julgamento alheio.
É solitário porque quando decides priorizar a tua paz, o teu descanso e a tua verdade, as pessoas que se beneficiaram da tua exaustão e do teu sacrifício irão ressentir-se. A tua nova fronteira de amor-próprio pode parecer egoísmo para aqueles que contavam com o teu altruísmo excessivo.
É épico porque a batalha mais difícil não é contra o sistema externo, mas contra a voz interna programada que grita: “Vês? És um fracasso. Não fizeste o suficiente pelos outros. Estás a ser egoísta.”
O propósito não é uma corrida de velocidade para fazer mais, mas uma maratona de persistência para ser mais. E ser mais, muitas vezes, significa dizer não a solicitações que drenam a alma, dizer sim ao descanso e dizer basta à culpa. É a decisão consciente de construir a tua vida a partir da verdade interior, e não a partir das expectativas do mundo.
O Amor-Próprio: A Funda da Sua Missão
Se pudermos resumir a reengenharia de perceções, esta é a nova realidade:
Amor-Próprio é o Único Altruísmo Genuíno.
É nesse ambiente de genuíno Amor-Próprio que o autoconhecimento dá lugar ao caráter perfumado; onde a humildade do simples se transforma em sabedoria, e o sábio se eleva a um estado de maturidade, preenchido com Amor-Próprio, e, consequentemente, cheio de Deus.
Quando nos amamos e nos cuidamos, chegamos aos outros inteiros. Quando chegamos inteiros, o nosso serviço é limpo, sem cordas de ressentimento ou necessidade de aprovação. A nossa doação flui como uma nascente, pura e inesgotável.
É aqui que o serviço se torna uma força transformadora e, sim, um ato político. A plenitude do Amor-Próprio desativa a necessidade de competir por status; ser o número 2 deixa de ser um problema e torna-se um ato de pura generosidade, pois a sua identidade não reside no título, mas no transbordamento. Esta é a essência do amor, tal como a filósofa bell hooks o define: o amor não é apenas um sentimento, mas uma ação, um compromisso com o crescimento próprio e do outro.
Desta maturidade, a liderança pelo serviço começa a manifestar-se naturalmente no nosso eu. Servir os outros torna-se indispensável, essencial para vivermos. Andar em Amor é Servir. É um ato que desestabiliza o sistema, e por isso, é um ato político e profético.
O serviço prestado a partir da plenitude espelha o sacrifício de Cristo (lembrado em obras como as de Mel Gibson sobre a paixão de Cristo e os Apóstolos), um ato de entrega total e limpa. Contudo, é vital lembrar que o serviço genuíno e poderoso, o que flui do Amor Maior, traz consigo a sombra da inveja e do ódio, como Cristo e os seus apóstolos foram odiados. O mundo inveja a Luz que não consegue apagar e odeia o Amor que não consegue corromper. A incompreensão do caminho solitário persiste, mas a dor da perseguição é superada pela certeza de que o sofrimento, neste contexto, é a prova de que a nossa missão é verdadeira, integral e Divina.
- A austeridade diz: “Sacrifica-te e talvez sejas digno.”
- A celebração diz: “Já és digno. Brilha, e o serviço será a tua expressão natural.”
A tua missão não é algo que tens de ganhar ou provar. A tua missão é a tua vocação, o teu chamado natural. É o ponto de encontro onde o teu maior dom se cruza com a maior necessidade do mundo. E este dom só pode ser entregue em pleno quando a sua fonte… o teu eu interior, está bem cuidada.
Permite-te:
- Curar: Reconhece as feridas do passado, a culpa e o ressentimento que sentiste por te teres doado em excesso.
- Repousar: Entende que o descanso não é um luxo, mas um requisito para a sua missão.
- Priorizar a Paz: Faz da tua paz interior o teu bem mais valioso. É a partir dessa paz que a clareza da tua missão se manifestará.
O Amor Mais Poderoso é o que te transcende. Ele está em Deus. Mas Deus expressa-se através de ti. Portanto, o caminho para o Amor Mais Poderoso começa, inevitavelmente, no amor pelo canal que Ele escolheu: tu.
Que o seu propósito não seja uma carga pesada de dever, mas a celebração alegre da tua verdadeira ressonância. E que as lágrimas, se vierem, não sejam de tristeza pela perda, mas de alívio pelo encontro, o encontro glorioso e inadiável com o seu Eu, que é o templo da dua missão. Levanta-te e brilha, pois já chegou a tua luz. Ser feliz é obrigatório!